Nome:
Danilo
Cidade:
Franca
Estado:
SP
Data:
29/05/2011
O BARÃO DO ARIZONA ( The Baron of Arizona / EUA; 1951 ). Direção: Samuel Fuller. Com : Vincent Price (James Addison Reavis ), Ellen Drew (Sofia de Peralta-Reavis ), Vladimir Sokoloff (Pepito Alvarez ), Beulah Bondi (Loma Morales ), Reed Hadley (John Griff ).
Segundo filme de Fuller para a produtora “Poverty Row”. Mas dessa vez Fuller dispõe de quinze dias de filmagem, cinco a mais do que teve para Matei Jesse James, e da prestigiosa colaboração do fotógrafo James Wong Howe, que desejava fazer o filme. É ainda um western, mas a originalidade do assunto, baseado em um personagem real, e a liberdade de Fuller em relação ao gênero são agora cem vezes mais flagrantes. James Addison Reavis , o “ barão do Arizona ” ( em atuação perfeita de Vincent Price, num de seus melhores momentos no cinema longe do Terror e do Suspense ) é uma das figuras mais surpreendentes da História dos EUA, que terá estimulado a imaginação de Fuller. Ele conta a odisseia de um falsário que inventou uma família hispânica ( os Peralta ) como herdeira da terras que vieram a ser mais tarde o estado do Arizona. Ele não só transformou uma garotinha pobre em Sofia de Peralta ( vivida em sua infância por Karen Kester e na fase adulta pela lindíssima e altiva Ellen Drew ) , como a elevou à condição de baronesa, tentando iludir quem a criava ( o pobre camponês Pepito Alvarez, brilhantemente vivido por Vladimir Sokoloff ). Para isso, mudou documentos de um convento, passando por frade, e chegou até a falsificar uma página do arquivo real em Madri como se o rei da Espanha tivesse realmente doado as terras à família fictícia. Até o crime ser descoberto , o “ barão ” ( ele, apropriadamente se casou com o herdeira que criou ) ameaçou expulsar como invasores, os agricultores que haviam adquirido lotes do governo. Ladrão grandioso, sua ambição desmesurada, seu orgulho, sua vontade de potência, sua fantasia, sua loucura, por vezes sua violência (da qual Fuller faz notar lampejos brutais, por exemplo na cena onde ele espanca os dois homens que vieram lhe extorquir uma confissão), cederão finalmente o passo ao amor. Amando a mulher que terá inventado, suscitado, elevado, afeiçoado, Reavis permanece fiel a si mesmo e à sua própria criação. Atmosferas noturnas e chuvosas, trespassadas pela luz de tochas ou pela febre de um sonho louco, uma grande mobilidade da câmera, uma ironia saborosa: tais são os elementos que Fuller dispôs para nos convencer que essa história extraordinária merecia ser contada. Sendo o “marginal” que sempre foi, Fuller obedece nesse filme à grande regra que se impuseram em um momento ou em outro de suas carreiras os artistas de Hollywood: quando os meios faltam ou são escassos, remedia-se pela profusão de peripécias a riqueza dos personagens e as atmosferas e os detalhes, por uma invenção sem limite e sem freio. Aos cineastas ou aprendizes de cineastas que choram às vezes por suas penúrias, pode-se apenas aconselhar que observem atentamente esse filme: não há escola melhor!